Sou uma mistura de sentimentos e culpas

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Um eterno ponto de interrogação, sempre querendo saber tudo... um eterno ponto de exclamação, sempre fazendo valer uma opinião pensada e nao copiada da cabeça de alguém...

domingo, 30 de setembro de 2012

Lua (parte I)


Parecia uma menina igual a todas as outras, mas era aí que ela se diferenciava, tinha os modos estranhos, sentava sempre toda reta e se dizia especial, de fato era, se olhar pela ótica de que não se parecia com ninguém, nem da família, nem da rua...
A tia que a criara já havia deixado pra lá, tentar lhe ensinar modos de boa moça já era impossível. Sempre dizia _ com dezessete anos já não sei mais o que fazer dessa menina..., mas também era verdade que de certa maneira admirava a sobrinha, que nunca dependia de nada, afinal mal dava ouvidos ao que lhe diziam, e quando a incomodavam muito, ela fugia pra dentro de um livro, e lá ficava o dia todo...
Todos da rua já sabiam que Lua era assim mesmo, vivia, com o perdão do trocadilho sem criatividade, mas que caia como uma luva, aluada. A tia Jujú como todos chamavam, tinha mania de dizer que se a mãe não a tivesse dado este nome tão atípico antes de abandonar a pobre menina, talvez ela não fosse assim. Mas sabia que no fundo ela era exatamente como a mãe...
Lua descia a rua, quieta, numa manha ensolarada, quando viu pela primeira vez o novo vizinho, um homem de cara enferrujada e dentes estranhos, olhou e riu, ele olhou e não esboçou nenhuma reação. Logo atrás vinha um menino com uma mochila grande e um skate, menino franzino e de certa forma, feio.
Olhou atentamente para onde eles iam e viu que ocupavam a casa que estava à venda no fim da rua, o menino olhou pra trás e acenou com a cabeça, mas Lua já estava voltando aos gritos da tia, que avisava que ela havia esquecido um livro... pensou, que vergonha, titia gritando meu nome no meio da rua e as pessoas todas vendo, fossem esses mesmos de sempre, tudo bem, mas há vizinhos novos...
Uma semana depois de ver seus novos vizinhos na rua, Lua ouve sua tia comentar que o Sr que alugara a casa estava procurando empregadas, a tia muito fofoqueira comentava que achava muito estranho um senhor com filho não ter uma esposa, como acontece nessas ruas em que todo mundo se conhece, todos sabem de todo mundo e alguém novo sempre faz todos se interessarem, exceto Lua que achava isso mais do que uma indelicadeza, achava ridículo, ao que a tia confirmava que nem os hábitos das outras mulheres da rua sua sobrinha era semelhante.
As coisas aconteceram mesmo depressa, logo a rua inteira sabia que o Sr. Rocco e seu filho vinham do norte, após uma onda de febre amarela em que sua esposa havia falecido, vendera tudo e viera ao sul com o filho. Logo também já se sabia que era um homem rico, vivera dois anos na construção de uma usina, mas a mulher contraíra a doença dos índios e não sobrevivera, temendo acontecer o mesmo ao filho, mudou-se.
Mas o que Lua mais gostou nos novos vizinhos foi o dia em que a mudança que ainda faltava, chegou, nunca na vida ela tinha visto tantas caixas escritas “livros”, pensou que talvez não fosse mal ficar amiga deles e ter acesso a tantos títulos, embora nem soubesse de que livros estas caixas estavam cheias, já pensou serem aventuras, romances...
Lua estudava pela manha, e certo dia ao descer a rua viu seu vizinho caminhando em direção a parada de ônibus. Curiosa como só ela podia ser, apressou-se e alcançou o menino, que logo vira, nem era tão feio assim.
__vai estudar no Antunes Jorge?
__oi pra você também, sim vou
__ me desculpe, sou Lua, e você?
__Lua? Entendi...Henrique
__ entendeu, o que?
__nada, fiz uma piada com o seu nome só isso, se não gostou, desculpe!
__capaz, se eu contasse todas as vezes que ouvi piadas com o meu nome eu não faria outra coisa... Eu estudo no Antunes Jorge, te apresento o colégio se quiser.
__ claro, ia gostar...
Subiram no ônibus e seguiram.
 O Antunes Jorge era o colégio mais conceituado da cidade, ali estudaram muitos governadores e juízes. Lua, que era de família humilde, estudava lá por que sua tia era amiga de longa data de uma das supervisoras e conseguiu uma bolsa pra a menina, mas deste modo era cobrada mais que todos...
Logo Lua e Henrique se tornaram amigos, estudavam na mesma turma e sempre andavam juntos, e quanto mais se conheciam mais Lua percebia que existia algo naquele garoto que parecia estranho, era um menino magrinho, mas de olhos azuis e tristes, embora risse de tudo...
.....

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