Sou uma mistura de sentimentos e culpas

Minha foto
bage, rs, Brazil
Um eterno ponto de interrogação, sempre querendo saber tudo... um eterno ponto de exclamação, sempre fazendo valer uma opinião pensada e nao copiada da cabeça de alguém...

quinta-feira, 12 de setembro de 2013


Rasgar: folhas, cartas, amores...
Perder: um dia, um sorriso, uma vida...
Tentar: entender, aceitar, viver...
Amar: por conveniência, inteligência, sobrevivência...
E depois de tudo, rasgar, perder, tentar, amar... Sobreviver...

domingo, 21 de julho de 2013


Mio(uto)pia...

Meus olhos sempre viram mais que podiam
Meus olhos viam desfocado
Quatro graus de miopia

A te dar beleza mesmo não vista

E eu ficava a olhar-te mais de perto
Porque de longe já não o via
E de tanto aproximar-te
Acabou vindo morar no meu peito...

E meu defeito que antes eu odiava
Passou a ser cúmplice
Nas horas que eu tentava focar teu sorriso
E sempre tentando ver mais do que havia...

Os olhos tinham esse empecilho
E logo fui me aproveitando dele
Se os amigos e amores longe me fugiam aos olhos
Passei a trazê-los mais pra perto...

domingo, 18 de novembro de 2012

reticências...


Mato-te todos os dias, te destruo e me perco entre os destroços...
Aprendi a erguer castelos e te sufocar, aprendi a afogar-te em meu pranto, e mergulhar na minha angustia, morro eu, mortal...
Mato-te com as mãos, te mato com minhas palavras e tu ainda vives, sobrevive, teimosamente volta pra casa comigo, preenchendo o espaço que não quer ser vazio, que quer inundar-se da tua presença...
Estrangulo-te, empurro tuas palavras garganta adentro e ris tanto de mim, que choro, e te mato mais uma vez, mato no meu esquecimento sempre lembrado... Dói, a sua morte inexistente me dói, me mata mais que a ti...
Sei que tenho um peito onde repousar e um medo que me expulsa, sei que tenho uma razão infantil e um desespero adulto, insaciável, imortal...
Então adormeço meu medo e descanso minhas dores, recobrando as forças pra te matar numa manhã qualquer em que seu amor não alimente como antes ou que sua teimosia me irrite mais que suas mãos me aquecendo...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O palco...

Os vapores das casas vão se misturando ao cheiro da rua, e tudo caminhando junto, levando todos pra casa, cada personagem indo de volta para dentro do armário, cada mascara exausta indo descansar em alguma caixa empoeirada...
As fantasias vão se despindo de todas as verdades e transpondo as portas, indo de encontro ao nada de cada alma, do vazio de cada existência...como num espetáculo repetido, cada qual sabendo exatamente seu lugar, as verdades contadas agora perdendo o glamour...indo apenas, se indo..
Então toda a maquiagem, escorrendo, fazendo uma fina mancha no fundo da pia, quase desenhando um rosto desfigurado...limpa, parece gente "de bem", não...
Se agora um grande espelho refletisse até o que a alma fala, gritaria tao alto que nada se esconderia, são apenas roupas, são etiquetas, são medos e mentiras que ninguém mais quer saber...
Amanha outro dia, outra faceta, outro ouro falso para ofuscar o novo espetáculo de lugares cativos, de almas machucadas, de egos estraçalhados pela vaidade...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Enquanto desço as escadas que me levam de encontro a meu interior,
penso nas horas que achei que soubesse todas as respostas,
que imaturidade minha pensar que tudo que se podia querer cabia dentro de um sorriso,
aprendi que sempre se quer mais, que a vida se alimenta de todo tipo de energia,
mas que mesmo assim é egoísta
.
.
.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Notas de um ébrio

As doses, muitas, da ultima noite, ainda passeavam pelas entranhas, era perceptível sua presença, assim como também eram, seus estragos.
Havia, talvez, passado do limite, talvez dito ou feito coisas erradas, mas a presença daquele gosto denotava que algo ainda parecia vivo no seu interior...
Parecia que algo estava retumbando dentro de sua cabeça, não era dor, nem enjoo, era um vazio, vazio que incomodava, latejava...
O sol tinha uma maldade no olhar, lançava seus raios pela vidraça sem cortina, e ia se espalhando pela sala. Por que diabos dormira na sala, por que diabos não está nublado?
De uma coisa sabia, tinha um sentimento de arrependimento, tinha um que de estranheza, parecia desligado da tomada, diferente da noite anterior quando parecia ligado numa usina nuclear, ria, fazia piadas, mentia, cortejava as belas moças...mas agora, impotência, somente...
Era como se de uma coragem de começar houvesse restado apenas um medo, como se em toda coragem houvesse pitadas de medo, e que estas fossem mais resistentes que toda e qualquer coragem.
Confuso, queria dormir...mas doía o corpo, e esse vazio na alma...
 Então, olha: mesa, cadeiras, e sente uma sede, sede seca, indo pela garganta, descendo sensivelmente pelas membranas...enche o copo e descansa o braço sobre a poltrona..nada mais está fora de lugar...
(pintura, João Werner)

domingo, 30 de setembro de 2012

Lua (parte I)


Parecia uma menina igual a todas as outras, mas era aí que ela se diferenciava, tinha os modos estranhos, sentava sempre toda reta e se dizia especial, de fato era, se olhar pela ótica de que não se parecia com ninguém, nem da família, nem da rua...
A tia que a criara já havia deixado pra lá, tentar lhe ensinar modos de boa moça já era impossível. Sempre dizia _ com dezessete anos já não sei mais o que fazer dessa menina..., mas também era verdade que de certa maneira admirava a sobrinha, que nunca dependia de nada, afinal mal dava ouvidos ao que lhe diziam, e quando a incomodavam muito, ela fugia pra dentro de um livro, e lá ficava o dia todo...
Todos da rua já sabiam que Lua era assim mesmo, vivia, com o perdão do trocadilho sem criatividade, mas que caia como uma luva, aluada. A tia Jujú como todos chamavam, tinha mania de dizer que se a mãe não a tivesse dado este nome tão atípico antes de abandonar a pobre menina, talvez ela não fosse assim. Mas sabia que no fundo ela era exatamente como a mãe...
Lua descia a rua, quieta, numa manha ensolarada, quando viu pela primeira vez o novo vizinho, um homem de cara enferrujada e dentes estranhos, olhou e riu, ele olhou e não esboçou nenhuma reação. Logo atrás vinha um menino com uma mochila grande e um skate, menino franzino e de certa forma, feio.
Olhou atentamente para onde eles iam e viu que ocupavam a casa que estava à venda no fim da rua, o menino olhou pra trás e acenou com a cabeça, mas Lua já estava voltando aos gritos da tia, que avisava que ela havia esquecido um livro... pensou, que vergonha, titia gritando meu nome no meio da rua e as pessoas todas vendo, fossem esses mesmos de sempre, tudo bem, mas há vizinhos novos...
Uma semana depois de ver seus novos vizinhos na rua, Lua ouve sua tia comentar que o Sr que alugara a casa estava procurando empregadas, a tia muito fofoqueira comentava que achava muito estranho um senhor com filho não ter uma esposa, como acontece nessas ruas em que todo mundo se conhece, todos sabem de todo mundo e alguém novo sempre faz todos se interessarem, exceto Lua que achava isso mais do que uma indelicadeza, achava ridículo, ao que a tia confirmava que nem os hábitos das outras mulheres da rua sua sobrinha era semelhante.
As coisas aconteceram mesmo depressa, logo a rua inteira sabia que o Sr. Rocco e seu filho vinham do norte, após uma onda de febre amarela em que sua esposa havia falecido, vendera tudo e viera ao sul com o filho. Logo também já se sabia que era um homem rico, vivera dois anos na construção de uma usina, mas a mulher contraíra a doença dos índios e não sobrevivera, temendo acontecer o mesmo ao filho, mudou-se.
Mas o que Lua mais gostou nos novos vizinhos foi o dia em que a mudança que ainda faltava, chegou, nunca na vida ela tinha visto tantas caixas escritas “livros”, pensou que talvez não fosse mal ficar amiga deles e ter acesso a tantos títulos, embora nem soubesse de que livros estas caixas estavam cheias, já pensou serem aventuras, romances...
Lua estudava pela manha, e certo dia ao descer a rua viu seu vizinho caminhando em direção a parada de ônibus. Curiosa como só ela podia ser, apressou-se e alcançou o menino, que logo vira, nem era tão feio assim.
__vai estudar no Antunes Jorge?
__oi pra você também, sim vou
__ me desculpe, sou Lua, e você?
__Lua? Entendi...Henrique
__ entendeu, o que?
__nada, fiz uma piada com o seu nome só isso, se não gostou, desculpe!
__capaz, se eu contasse todas as vezes que ouvi piadas com o meu nome eu não faria outra coisa... Eu estudo no Antunes Jorge, te apresento o colégio se quiser.
__ claro, ia gostar...
Subiram no ônibus e seguiram.
 O Antunes Jorge era o colégio mais conceituado da cidade, ali estudaram muitos governadores e juízes. Lua, que era de família humilde, estudava lá por que sua tia era amiga de longa data de uma das supervisoras e conseguiu uma bolsa pra a menina, mas deste modo era cobrada mais que todos...
Logo Lua e Henrique se tornaram amigos, estudavam na mesma turma e sempre andavam juntos, e quanto mais se conheciam mais Lua percebia que existia algo naquele garoto que parecia estranho, era um menino magrinho, mas de olhos azuis e tristes, embora risse de tudo...
.....

Lua (final)

Quando chegou a primavera, a rua inteira ficou colorida, muitas arvores ao longo do passeio publico, e o chafariz da rua parecia deixar tudo mais bonito, Lua adorava sentar-se na praça e ler durante as tardes mais quentes, logo conseguira um companheiro para as tarde, mas Henrique não lia, ao contrario, ficava andando em seu skate e perturbando a paz de Lua, ela ria de tudo e não reclamava...
A tia de Lua logo pensou que aquele menino podia não ser boa companhia pra sua sobrinha, ficava preocupada com as notas na escola, e se perdesse a bolsa, era melhor nem pensar, ao menor sumiço da sobrinha, ela saía pela rua chamando por ela, mas sem parecer rude, inventava algo dentro de casa para trazê-la, passou até a comprar-lhe livros, CDs, filmes novos, mas parecia mesmo que a menina havia feito um amigo. Logo a tia deu-se por vencida e deixou pra lá. Porem Sr. Rocco começava a notar a pequena amiga de seu filho e achar tudo muito estranho, toda vez que via aquela menina, ele sentia algo como se ela tivesse algo estranho no olhar, mas não sabia o que, passou a vigiar de perto a amizade do filho.
O que ninguém sabia, é que por um golpe do destino, ou talvez coincidência mesmo, Sr Rocco não estava errado em ver algo de familiar na menina, de fato ela o lembrava alguém e logo ele teve um estalo, lembrou-se. Assustado, não sabendo bem se estava maluco, ou apenas era uma coincidência, mas Lua era a cara de uma namorada da sua adolescência, mas não lembrava direito seu nome.
No dia seguinte bem cedo, Jujú estranhou uma batida à porta, abriu e viu Sr Rocco.
__bom dia, em que posso ajudá-lo.(já pensando, o que diabos a Lua aprontou?)
__ bom dia, senhora, desculpa incomodá-la mas poderíamos conversar?
__ sim, mas sobre o que?
Entrou e sentou-se no sofá, olhou em volta e já não mais precisava perguntar nada que viera saber, ao lado do sofá havia uma porta retrato com a foto de uma moça muito bonita.
__é a mãe de sua sobrinha? Perguntou ele:
__ sim, Matilde, mas não mora mais aqui, se foi há muitos anos.
__ desculpe, faleceu?
__não, antes fosse, abandonou a pobre menina e caiu no mundo, nunca mais a vimos.
Então ele cria coragem e pergunta:
__ a senhora não se lembra de mim?
Ela olha, e responde :
__não.
__ acho que fui amigo de sua Irma, Matilde e eu namoramos, quase casamos, pelo menos era o que queríamos, mas meus pais se mudaram e nunca mais a vi.
Juju então olha firmemente para o Sr e mal pode acreditar, ele é o namoradinho que um dia sumiu e deixou sua Irma grávida.
__ sim, diz ele._ sou Carlos, namorado de Matilde.
Ele diz isso sem saber que ao ir embora com seus pais tinha também deixado para trás a namorada grávida. Jujú engole em seco e decide não falar nada do que acaba de concluir, melhor ter certeza, mas isso ela já tem.
__ então a senhora era a loirinha magricela que andava sempre com Matilde, que bom que o destino junta as pessoas novamente, não acha?
__ é, sou eu sim, não tão magricela.
Com toda a conversa, Lua entra na sala e vê Sr Rocco, passa por eles cumprimentando e sai.
Nos dias que se seguem, Juju atormenta-se com a ideia da sobrinha ser Irma daquele menino, e pensa, se eles inventam algo, essas coisas que essa garotada inventa, melhor nem pensar e ter certeza antes...
Num inicio de noite, Lua entra na sala de casa e sua tia a chama.
__ senta aqui que precisamos conversar.
__ não fiz nada, tia!
__ não estou te acusando de nada, menina. Preciso te contar uma coisa sobre sua mãe, você sempre pergunta, acho que ta na hora de saber.
Alguns minutos depois, Lua sai correndo pela rua, entra na casa de Henrique e o olha firmemente, ele sem entender, se aproxima.
__o que foi aluadinha? Ta inventando alguma aventura e quer me levar?
__ não. Ela responde, e começa a chorar.
A tia sem saber onde a menina se meteu, começa a procurá-la pela rua, liga para Sr Rocco, que logo chega sem entender. Então ela lhe conta que ele é o pai de Lua, os dois correm para a casa dele.
Lua olha Henrique e como numa cumplicidade estranha, se ajoelham, se beijam.
__você prefere assim? Pergunta ela.
__não, preferia que não fosse, mas se fosse diferente talvez não fosse melhor.
__ você é mesmo um doido, fala um monte de palavras repetidas, nem serve pra irmão, é burro, aposto que nunca leu um livro destes do teu pai!
__ que importa isso agora?
__ não importa, não devíamos ter sido tão apressados, isso sim!
__ mas como íamos saber, ah meu deus!
__Seu Deus? Ele não vai fazer nada por você agora, sabia?
__então? Vamos?
__vamos, vamos sim!
Ouve-se um barulho enorme vindo de dentro da casa, Sr Rocco e Juju entram e mal podem acreditar no que vem. O vidro da mesa de centro quebrado, Lua caída sobre o sofá, sorrindo. Próximo a ela, está Henrique, ainda piscando os olhos, os dois com cortes profundos no pulso esquerdo. Todos correm para tentar fazer algo, os empregados gritam. Já não há o que se fazer, Lua e Henrique estão mortos.
A tia de Lua olha atentamente para a menina, o sorriso que lua tem nos lábios parece provocador, ela abraça a sobrinha... todos choram...os olhos de Henrique miram a janela, de onde se vê uma lua cheia...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012


Parei de escrever poesias. É verdade, não as escrevo mais...
Parei de escrevê-las quando vi que elas saiam de mim como nuvens e se perdiam pelo céu... então, pensei, parei...
Parei de olhar em volta em busca de poesias, e confesso que assim elas me apareceram muito mais, andaram me rondando, querendo que as escreva, não adianta, não as escrevo mais...
Parei de observar as coisas bobas da vida, ando mais seria, mas parece que agora tudo parece ter mais graça...
Parei de escrever cartas, também abandonei os filmes franceses e as festinhas entre amigos... também tenho de confessar que os amigos vieram agora mais pra perto, não todos, claro, os de verdade sim...
Parei de me apaixonar a primeira vista, parei de procurar em olhares o que escondo em mim... passei a olhar tudo duas vezes, analisar tudo como uma criança teimosa...

terça-feira, 3 de julho de 2012

No meio das fotografias, encontrei uma que já pensava não existir mais, era do teu sorriso, aquele que só certas situações faziam aparecer...

No meio de tanta coisa que guardo sem motivo, não que ache errado guardar recordações, mas tem dias que parece que tem mais lembranças do que uma vida real, encontro sempre algo que me faz viajar no tempo, longe ou perto mora uma parte de mim que não sei por que, se perde, se transpõe a tudo e fica na memoria, vivendo, habitando cavidades obscuras, secretas, mas basta achar alguma coisa que guardei meio sem querer, pra tudo vir a tona...

E hoje entre tantas coisas eu encontro como que algo meio vivo, esse teu sorriso estava lá, como se o tempo não tivesse passado, acho estranho este pedaço de papel impresso guardar teu sorriso que eu já havia esquecido, ele guardou durante anos o mesmo sorriso, não te deixou ir, mesmo tendo ido...essas contradições me deixam presa e ao mesmo tempo livre, a vida é mesmo estranha...

sexta-feira, 22 de junho de 2012

...então veja o que aconteceu, tenho nas mãos já toda a verdade que você tanto esconde,
veja, não finja que não consegue ver, é tudo que temos pra mostrar, não há surpresas nem mágicas mirabolantes, é apenas isso....


passei a vida achando que era bem mais que isso, e venho, num espelho de ilusões compradas, refletir o que já não existe mais....o que você fez pra que tudo pudesse ser diferente, o que você tentou fazer, o que você se negou a tentar?


Não tenha medo, nem toda essa verdade cega, nem todo esse fogo queima, é tudo ilusão, quando o despertador toca, é tudo apenas mais um dia que nasce....

e tem peixes nadando, tem todas as coisas na mesa do café, tem aquele cheiro enjoado de flores na mesa, tem tudo, tudo que você esqueceu de sonhar...

e foi de ilusão que você viveu até aqui, então abra a porta e saia, compre suas próprias roupas, arrume a vida com toda a atenção e deixe de sonhar sonhos alheios....

terça-feira, 10 de abril de 2012


Revolto-me entre redemoinhos de soluços
entre as mãos e as palavras contidas...
Regresso-me entre frases não ditas e desejos abortados
desistindo dos dias que parecem estagnados entre paredes imaginarias
imagino-me colocando obstáculos demais entre nós,
sem entender o porque desta auto-sabotagem

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Percepções


O barulho da casa, os ruídos no assoalho, as portas rangendo...
o coração batendo, as veias pulsando, o medo circulando,
o vento soprando, o dia acabando, e outro vindo...
as coisas guardadas, o lixo acumulado, os sentimento dispensados...
o beijo negado, as flores mortas, o cheiro da rua...
a calçada molhada, as luzes acesas, o sol ofuscando...
as arestas, os resto de nada, o nada absoluto...
o silencio demorado, o corpo se mexendo, a vida revivendo,
uma pena que voa, um pássaro que canta, um grito calado.
eu observo tudo como se os olhos fotografassem cada cena, como se cada quadro da vida fosse sumir pra sempre, eu toco as coisas com fome nas mãos, com apetite insaciável nos dedos...como se o ócio alheio fosse algo invejável, como se a inércia das coisas eu também quisesse ter...queria ficar parada como um relógio parado, esperando que cada obstáculo sumisse...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ensaio sobre a desistência, parte 2


Escuto o silencio, são quase gritante os pingos d'agua na pia
os azulejos espelham meus medos, refletem as agonias das horas, os dias secos que vivi na companhia de minhas lágrimas
Afundo a lâmina sobre o véu, vai deslizando pela pele, até umedecer-se de vermelho, jorrando, molhando as rendas, o cetim
o ar me falta, o medo me invade, parece que quase me arrependo, parece que algo celestial toma conta....
como podes sentir este medo agora?
Não sei mais distinguir o vermelho das unhas, do carmim quente que sinto pela pele....
os olhos teimosos andam por todo o quarto, vejo as coisas mais familiares que antes...
a boneca da caixa de música parece sorrir, o pêndulo da porta parece que ficou estático, numa inércia fúnebre, num silêncio sepulcral...
Ouço ao longe ruídos, será que não me podem deixar em paz?
....as lágrimas secas tem gosto doce, e vão deslizando pela face, as mãos seguram no azulejo e escorregam, descanso, durmo?....


segunda-feira, 19 de março de 2012

ensaio sobre a desistência


O tic tac do relógio vai ensurdecendo-se ao longe...
O gosto amargo vai passando pelos lábios adentro, língua, garganta, sufocando...
O pulso, descompassado, o medo regente...
Um grito, um eco, corpo pesando, desabando sobre o leito...
Ruídos, equipamentos metálicos.
_ respirando? fundo
_ voltando?
O tic tac do relógio vai crescendo, ensurdecendo. Por quê agora escuto tão alto?
Voltando pela calçada úmida.
Um dia há de me deixar partir....

domingo, 18 de março de 2012

Quase sem ar...

O que me sufoca?
é a mão que me aperta a garganta e arranca meus botões...
O que destrói minha existência,?
é a descrença, é a ruína no peito...
O que me mata?
é esse seu jeito de me olhar dentro dos olhos, dentro da alma....
e me arranca do meu mundo, me ilude, vai....embora....

sexta-feira, 16 de março de 2012

Devias ter me perguntado sobre todas as coisas que ignoravas
Devias ter me dito todas as frases que contivestes
Devias, mas não fizeste...

Devias ter me feito sorrir mais que qualquer pessoa alegre
Devias ter me feito chorar, sentir medo, e dor
Devias, mas não fizeste

Devias ter guardado as horas inúteis pra vivermos dias perfeitos
Devias ter me segurado quando percebias que eu poderia cair
Devias, mas não fizeste

Devias ter ido além do simples desejo carnal
Devias ter habitado minhas arestas, cavidades e sentimentos
Devias, mas não fizeste...

Não fizeste por medo
Não fizeste por vaidade
Não fizeste por insegurança
Não fizeste por falta de algo que nem você mesmo soube entender....

sábado, 10 de março de 2012

Baby, as coisas mudaram, guarde seus falsos sentimentos pra você...
apartir de hoje as coisas serão diferentes...
Baby, durma, vai passar a tempestade....
Chega teu corpo quente um pouco mais pra perto, não há de machucar toda essa teimosia tua, baby, os olhos da noite lhe acharam, eu então lhe protegerei...
Baby, não há mais sol entre as nuvens, ilusão sua pensar que seu amor pode curar todo mal, não te culpes o mal há de adormecer junto às pedras no jardim...

quarta-feira, 7 de março de 2012


Há pelo caminho flores mortas, não se apegue tanto à vida meu bem,
Há pela vida um veneno que te leva daqui, mesmo que você não queira ir,
Há pelo mundo um bocado de sensatez amarga que não sabe a vida adoçar....

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Não te vás


Não quero dança nenhuma que não te tenhas mais como par,
nem tampouco quero beijo que seja outro diferente deste teu,
não quero musica qualquer que não seja esta nossa, repetida, exaustiva,
habitual
Não quero nem sequer outro perfume, que este se decompondo dentro de nós, cheiro de nada, cheiro de enxofre, anestesiando nossas dores....

Não sejas boba minha menina, este amor que sentes não dói, a menos que queira sentir mais, provar mais...
não quero saber de falsas juras nem de dias ensolarados, já pensei em outros tempos que isso era mais que se podia desejar, não, isso é quimera, utopia besta...
Não te vás assim depressa, fique aqui recostado, descansa teu peito antes de partir, e se achar que deves, não vás mais...
não te aches por demais vulnerável por simples presença minha, te juro ouvir teu coração e calar quando ele parar...
Não tenhas medo, não tenhas não, é um vento que sopra frio, que leva embora toda essa amargura que agora sentes, e depois, talvez não haja depois...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Eu danço com os teus desejos mais íntimos,
valsamos pela madrugada, esperando que o dia nunca chegue
eu vejo teus olhos, fixos, querendo ler meus pensamentos.
Não, meu bem, eles não te pertencem....

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012


Depois do último gole, te sinto na minha saliva
E desliza pela pele úmida e concentro meus devaneios nas tuas mãos
Depois das danças das horas, danças de corpos, descansa peito e ar em meu coração
As últimas palavras, sussurros incompreensíveis, sentimentos escondidos...
Nem tudo que se diz pode-se traduzir em verdades, nem tudo que se esconde é segredo...

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012


Só queria que soubesse que as flores eram menos belas que teu olhar
Só queria que soubesse que os dias eram escuros sem você
Só queria que soubesse que as horas eram mais longas sem sua presença
Só queria que soubesse que os abraços se trancaram sem seu calor...

As mesmas coisas que não te disse agora repito silenciosa, palavras más, palavras vazias
As mesmas coisas que olhavas, agora decoro, egoistamente quero perto, dentro
As mesmas coisas que pensei agora reflito, discuto com o vento, meio doida, travo duelos intermináveis, insaciáveis...

É que de tudo que aconteceu, queria que tivesse tido tempo de guardar algum pedaço
Por que não se pode arrancar do tempo um pedaço generoso e guardar num baú, pra num dia de saudade extrema, de fome de vida, abrir e deliciar-se?...
Pena é imaginar as horas perdidas, os longos silêncios que queriam ser gritados, que queria ser intensos e ficaram parados, assim como que vendo a vida lentamente passar, numa caravana silenciosa, entediosa...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012


Somente tinha palavras pra me dizer, e ficava se escondendo pelas mãos
Somente tinha mentiras pra contar e eu querendo aventuras pra viver...
E tinha dias em que adormecia, ficava a imaginar quando esta dor cessaria...
Por que você não diz as suas armas, por que você não fala a minha língua
pra que brincar tanto de se perder?
Por que se seus problemas já não me distraem!

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011


Depende de onde você olha,
as vezes depende de como você vê....
Você fica pensando no nada
e eu lhe digo que eu penso naquelas loucuras e sanidades incuráveis
Não tenho medo de seu julgamento,
temo é ter sensatez demais que me evite pulsar...
Não me olhe com esta feição de pouco credito,
não queira saber o que penso da sua falta de coragem,
o que você teme eu arrisco,
o que você mente
eu desdenho...

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Suspiros


A pele os lábios as mãos
Os dentes as façanhas e os medos
A vida o peito e a indecência
o medo as horas e a rebeldia
meu corpo minhas artérias e palavras
convicções ideais e futilidades
manias paixões e vícios
taras maluquices e reflexões
você os outros e aqueles que não foram
as vidas passadas presentes e doadas
escolhas dialetos e músculos
o nada o coração e a falta de sono
angustias do ontem medos do amanhã
evidencias destinos e destilados
amontoados sentimentos e vazão
calhas falhas e navalhas...

terça-feira, 13 de dezembro de 2011


Quando nos tornamos uma fotografia que se quer esquecer? um bilhetinho que outrora fora romântico e que agora parece algo que se quer deixar quieto no passado?
Quando nos tornamos um dia que não se quer lembrar? um sentimento que se quer deixar adormecido, intocável?...
E quando com uma simples lembrança, parece que todo o castelo de sonhos que construimos vem ao chão, simplesmente por que ninguém lembrou de cuidar...
A vida vai assim se moldando, se enquadrando e as vezes nos expulsando, nos arrancando de nossas próprias vidas como se fossemos intrusos...
E da vida que eu não vivi que tenho mais saudade, é dos sonhos que não realizei que sinto falta, é da fome que não saciei que me sinto satisfeita...
Por que não se advinha, não se prevê os acontecimentos óbvios?...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Açucar...


Eu escuto o silencio, e toco as notas do tempo em acordes doces,
os dedos em perfeitos toques se misturam com o vento que parece tecer uma música nos fios de cobre.
A pouco existência e toda sua insistência, me prende ao suspiro que contenho e solto, ondulo e derrubo, meus beijos se rendem, se debruçam sobre teus desejos.
Teus medos, meus meninos dóceis, a cantar nos meus ouvidos e temer que eu não os queira escutar, e eu penso sem dizer, que fiques assim o tempo que precisar...
Ah tua mania de querer adivinhar nas entrelinhas do meu pensamento o que vem a seguir, até eu mesma desconheço meu bem, o dia de amanha é apenas uma quimera...
Que você pensa que pode fazer com esses seus olhos fixos?
Por que você acha que posso resistir?
Teus medos, meus meninos dóceis, a cantar nos meus ouvidos...
Um dia ainda decifro a verdade inteira, e posarei uma noite nos teus devaneios
Um dia ainda devoro teus desejos, e passo uma tarde nos teus jardins de sonhos...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011


Nada meu peixe imaginário num aquário de sol
Viaja pelo mundo meu pensamento sem sair da segurança do meu quarto
As paredes parecem me proteger daquilo que nem eu mesma temo mais,
minhas preces não mais atendem as minhas expectativas


Mergulha meu amor afogando-se debilmente na saliva de meus desejos
e vou tentando tatear a verdade em meio a meus medos infantis
São como vendavais de cores psicodélicas, um caleidoscópio de sensações...


Fico sentindo o beijo que ainda não dei, a prender-me, vida e a respiração
Meus gritos vivem abafados pelo amanhã, pelas incertezas do não ser...




sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Noite Invisivel


A tormenta silencia, na noite dos monstros acordados
a tempestade avança pela noite e clareia o breu dos meus pensamentos
minha carne cravejada de ossos desejando libertar-se
meu desejo rompendo o peito e esvaziando o espaço entre o tempo
as lacunas entre meus dedos, como garras afiadas, vão delimitando, conjugando, se perdendo
Arranhando paredes de papel em seda pura, desfiando a vida que se segura por um instante em meus lábios
Buscando o fim, encontro teu peito, arqueando, medo e coragem se enfrentam, tal qual um bardo errante eu entendo a canção do teu olhar...